Arnaldo Antunes passou pelo Porto para um concerto de serenidade irrequieta, em que também participou Manuela Azevedo, dos Clã.
Não começou pelo fim, mas foi um concerto começado a falar do fim. O tema era "Fim do Dia" e foi com ele que Arnaldo Antunes entrou em palco. Ficou apresentado o manifesto: palavras cruas quando é preciso (as mais ternas só de vez em quando), duas guitarras, teclas e, às vezes, acordeão. Isso e umas danças entre o ameríndio e o breakdance do Bronx cerca de 1984 (em câmara lenta).
Arnaldo Antunes parece estar sempre num lume brando pronto a ferver: anda de lado para lado, sobe os monitores, avança para fora do palco, recua, senta-se, encena as palavras, deita-se, dança...mas sempre com o ar mais sereno deste mundo. Numa das suas outras facetas, Arnaldo Antunes dedica-se à caligrafia. Em palco, ele é uma sucessão de caracteres chineses em tradução simultânea. A roupa também ajuda.
E é precisamente de palcos que trata o seu último álbum, Ao Vivo no Estúdio, pretexto desta vinda. Interpretou quase todos os temas escolhidos para o disco, incluindo as versões de "Qualquer Coisa" (de Caetano Veloso) e "Judiaria" (de Lupicínio Rodrigues).
Pelo meio houve a visita de Manuela Azevedo, para cantar os dois temas que em tempos gravou, "Qualquer" e "Num Dia" (ambos em co-autoria com Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves). Por momentos, pareceu vermos um casal chinês em jogos lúdicos: ela de franja e dança tímida, ele com camisa pré-maoísta e dança esquissa. Se assim fosse, ela seria de Sichuan e ele de Shandong, os sotaques batidos em papéis diferentes. Resultou.
Fonte: Sérgio Gomes da Costa (Blitz)
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