sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Entrevista pessoal (Manuela Azevedo) (2004)


Questão (Q) - Como é o dia-a-dia. Longe dos concertos? Acordas, vais ao café ...

Manuela (MA) - Eu vivo numa aldeia (perto de Vila do Conde), de maneira que não dá para ir logo ao café. Acordo normalmente tarde, tomo o pequeno-almoço em casa, porque acordo sempre esfomeada. Depois depende. Se estamos numa altura de concertos, volto cheia de saudades para casa, mas tenho logo de pôr a roupa a lavar e passar a ferro para voltar para os concertos.

Q - Já tinhas saudades deste regresso à calma...

MA - Todos nós sentimos isso. A família é muito importante, dá muita segurança. A vida de estrada, apesar de ser muito entusiasmante é também muito desgastante. Passas por muitas coisas diferentes, por horários complicados, por noites de concertos que são bestiais quando corre tudo bem, mas depois tens cinco horas para dormir. Estás sempre a viver opostos, momentos de grande euforia com momentos de grande cansaço.

Q - Nunca te apetece desligar, abandonar tudo?

MA - Eu gosto muito da estrada. Divirto-me muito com as viagens e temos gente muito fixe connosco. Não me sinto muitas vezes com vontade de desligar. Há alturas em que sim, quando já estamos com muitos concertos nas costas, muitas entrevistas.

Q - Nunca se fartam uns dos outros?

MA - Também, mas nós sabemos lidar com isso. O “já estou farto de te ver, o sai daqui, baza,” acontece. Mas também nos conhecemos muito bem e com os anos aprendemos a ter alguma elasticidade para lidarmos uns com os outros. Quando um começa a ficar cansado e com saudades, temos que ter pézinhos de lã para que a vida seja toda melhor.

Q - Mas há sempre hábitos que irritam...

MA - Somos pessoas muito normais e acabamos por ter alguma normalidade na estrada. Às vezes há uma ou outra coisa. Muita gente pergunta se temos rituais para entrar no palco. Mas nós não temos nada disso. Somos uma seca de um grupo. Não temos manias nenhumas.

Q - São todos grandes amigos, partilham tudo?

MA - O contrário seria impossível em 12 anos de trabalho. Que implicam ensaios, estrada,discutir o que vais fazer na carreira de um grupo. Decisões importantes para todos como parar e deixar de ganhar dinheiro durante algum tempo. Esse tipo de decisões fazem com que nos conheçamos muito bem. Apesar de tudo não somos daqueles grupos que andam muito juntos.

Cada um tem o seu reduto onde os outros não entram. Não vamos jantar, tomar café. Há alguma distância. Nós estamos tão juntos durante tanto tempo que é preciso esse espaço para respirar.

Q - Nessa tomada de decisões, há alguém que pese mais, quando?

MA - O Hélder é decididamente o chefe. Não no sentido de ser mandão, mas é a pessoa que tem ideias muito mais claras, do que deve ser o caminho musical dos Clã, o caminho artístico. E as decisões são sempre motivadas por necessidades artísticas. É muitas vezes o Hélder que coloca as questões, aponta problemas e soluções, mas a decisão é sempre assinada por todos. (...)

Fonte: Mundo Universitário, Miguel Aragão e Miguel Pacheco

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