quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Manuela entre as mulheres

Um concerto dos Clã no Teatro Nacional São João (TNSJ) teria, logo à partida, as condições necessárias para dar certo.

O teatro, cuja temporada 2009/2010 é apadrinhada pela vocalista Manuela Azevedo, é um dos símbolos da cidade. E os Clã são uma banda que faz questão de se afirmar do Porto - eles dizem "morcão" e "sopeira" do palco do TNSJ e o povo percebe-os. A somar a essa circunstância geográfica, o São João é um justo prémio a um grupo com 17 anos de carreira, cinco álbuns de originais e muito pouco a provar.

Mote

O convite para tocarem no São João levou-os a preparar um concerto especial, cujo título foi retirado da canção "Eu ninguém", de Rosa Carne, disco de 2004 centrado no universo feminino. Esse excerto - um amontoado de nomes de bonecas - e o mundo das mulheres, que o sucessor "Cintura" (2007) também visitaria, deram o mote para a selecção de temas e para o sóbrio e eficaz trabalho cénico.

Alinhamento

O alinhamento não passou por muitos dos êxitos da discografia dos Clã, centrando-se nesses dois álbuns e em versões de outros artistas pouco óbvias.

Para além de "Eu ninguém", os Clã foram a "Rosa Carne" buscar uma "Madalena em contrição" com letra magistral de Carlos Tê ("Onde vais pelo passeio/Diva de um casino em ruínas/Onde vais num devaneio/De quem ateia mil e uma camas") e jogo de luzes vermelhas a casar com a languidez das vozes masculinas no refrão ("Love, love, love").

Do mesmo disco, ouviram-se canções como "Uma mulher da vida" (Manuela, sapatos de salto alto e roupa sexy, a manejar uma faca ao ritmo do rock'n'roll), "Aqui na Terra", com Hélder Gonçalves a imprimir alguma fúria à guitarra eléctrica (coisa rara num concerto feito, quase sempre, de subtilezas), e "Gordo segredo", com Miguel Ferreira no piano.

De "Cintura" saíram canções muito aplaudidas como o single "Amuo", brilhante canção que inventa uma folk futurista, e a popular "Tira a teima", altura em que uma parte da assistência deixou as confortáveis cadeiras para se entregar à dança - foi o momento de comunhão total entre banda e público, a par de "Sangue frio", com que fecharam o concerto.

Versões

No que toca a versões, arte em que os Clã já demonstraram competência, as escolhas não podiam ser mais diversificadas. Três exemplos: "The beautiful people", de Marilyn Manson, que se tornou canção de cabaret, "Women of the world", maravilhoso hino obscuro pró-mulheres cantado por Ivor Cutler e Linday Hirst em 1983, e "Brigitte Bardot", de Tom Zé, que nos pôs a pensar se os Clã não serão a mais "brasileira" das bandas portuguesas, tal o cuidado (e facilidade) com que tratam a musicalidade das palavras, matéria plástica na voz de Manuela Azevedo.

Findo o concerto, a saída da sala fez-se ao som do original "Women of the world", com Cutler e Hirst a entoar "Women of the world take over/ Because if you don't the world will come to an end/ And it won't take long". Ninguém pode acusar os Clã de sabotarem a revolução.

Fonte: Público, Pedro Rios

1 comentário:

mariopaixão disse...

Fui vê-los nos dias 5 e 6 só falhei o dia 7 por causa da chatiçe chamada trabalho espero que voltem a repetir este alinhamento noutro espectáculo que eu não faltarei.Até Braga um abração.